No mundo da sustentabilidade da indústria da moda, são várias as questões que, até ao dia de hoje, continuam sem ter uma resposta clara. A que vamos discutir hoje é uma delas. No fundo, quero desde já avisar o leitor que chegará ao final desta publicação sem uma resposta final única e objetiva - são várias as respostas que podemos adotar face à questão que coloco hoje. Mas, afinal, o que é mais sustentável: fibras naturais ou materiais sintéticos reciclados?
Vamos começar por definir os dois conceitos e dar exemplos, para que, na vida real, toda esta questão abstrata seja mais fácil de aplicar. Quando falamos de fibras naturais, refiro-me a materiais utilizados na indústria da moda que o planeta Terra nos dá. São aqueles que podemos cultivar, são aqueles que os animais nos trazem, são aqueles que, tal como o nome indica, têm origem na Natureza. Os exemplos mais comuns deste tipo de fibras são o algodão, o linho, a seda e a lã. Contrariamente, as fibras sintéticas são aquelas que são produzidas ou manipuladas pelos seres humanos. O caso mais comum é o do poliéster que, apesar de ser uma fibra muito utilizada para a criação de peças de vestuário, tem o petróleo como o seu componente principal (só não me perguntem como é transformado, porque essa área já vai muito para além do meu domínio).
Se tivéssemos de comparar estas duas categorias - natural e sintético - seria fácil hierarquizá-las de acordo com a sustentabilidade. Tudo o que vem da Natureza é, claramente, mais amigo do ambiente. No entanto, na era onde tudo é possível, vimos uma nova categoria ascender: falo-vos das fibras sintéticas recicladas. Tal como as fibras sintéticas que falei anteriormente, a versão reciclada é produzida ou manipulada a partir da nossa tecnologia, contudo, a sua base é nada mais nada menos do que fibras sintéticas antigas. Ou seja, não há nenhum recurso novo no ciclo - a partir de fibras sintéticas antigas, são criadas fibras novas.
E agora, já sabemos qual é a opção mais sustentável? Talvez vos tenha baralhado... E é compreensível, pois nem eu sei dar uma resposta concreta a esta perguntas. Contudo, consigo analisar vantagens e desvantagens, por isso vamos passar a essa fase.
Vantagens da fibras naturais:
- São biodegradáveis, ou seja, quando deixamos de utilizar uma peça composta por fibras naturais, a sua decomposição é mais rápida e menos "estranha" ao meio ambiente.
- Há a possibilidade de serem produzidas (quase) sem químicos adicionados - como é o caso do algodão orgânico (contudo, é preciso salientar que uma produção normal de algodão necessita de uma grande quantidade de produtos químicos extremamente poluentes).
- Necessitam de bastantes recursos para serem produzidos (água, solo, etc.).
- Os componentes animais, como as peles, os pelos e, por exemplo, a seda, estão muitas vezes associados a técnicas de violência animal.
- Há menos recursos a entrar na cadeia de produção, tendo em conta que são utilizados materiais que já estavam previamente em circulação.
- Podem estar relacionadas com o conceito de zero waste (desperdício zero) ou ajudam a solucionar outros problemas de poluição, como é o caso do PEP - poliéster feito com plástico retirado dos oceanos.
- Não são biodegradáveis e, por isso, no fim da sua utilização durarão séculos num aterro;
- O seu processo de transformação pode estar associado à utilização intensa de químicos e tem um custo extremamente elevado (as peças de materiais reciclados serão logicamente mais caras que uma peça de algodão orgânico, por exemplo).
- É muito difícil atualmente fazer uma peça 100% em material reciclado, sendo muitas vezes feita uma mistura com outras fibras, como o algodão orgânico. Contudo, quando isto é feito, torna a peça extremamente difícil de reciclar e deixa de ser biodegradável.
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